terça-feira, 7 de outubro de 2014

Os primos

A vida leva-nos a percorrer caminhos que nos vão deixando cada vez mais longe daqueles que amamos. Não se trata de falta de interesse. É a penas uma questão de tempo e oportunidade.
Nem nos apercebemos da distância. Parece que foi ontem... mas na realidade passaram muitos anos.

Assim aconteceu com os meus primos: N, G e A - três irmão com quem brincava em criança e por quem tenho muito carinho. Cada um seguiu a sua vida, e a verdade é que há mais de 5 anos que não nos víamos.
Bem, não posso dizer que os tenha visto agora... simplesmente descobrimos-nos no facebook. De repente, sem esperar, N pediu-me amizade e seguiram-se os restantes manos. Até me comovi. Devorei todas as fotos que colocaram.
Que saudades

Pode ser difícil encontrarmos-nos, mas pelo menos já não estamos perdidos. Que bom.

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Um jardim



A tapada das Necessidades fica em Lisboa, mas nunca lá tinha ido. E que beleza… valeu a pena o passeio.

Metade está ao abandono, com edifícios em ruina e plantas por tratar. Uma beleza natural, quase selvagem.
A outra metade está extremamente bem estimada, pois encontra-se adjacente ao palácio das Necessidades. Lugar que se adivinha ser protocolar e daí tanto cuidado.

Lagos com patos. Jardim de cactos. Edifícios de grande nobreza. Símbolos do passado.

Pacífico. Um bom destino para passeios em família, onde as crianças podem brincar livremente.

Gostei muito. Fez-me bem passear num novo velho jardim.

terça-feira, 15 de julho de 2014

A espectativa


Viver em sobressalto não é fácil. Não se consegue descansar. O medo acompanha cada passo que se dá. Não é fácil...
Em cada consulta entro em pânico. E se... e se... pura paranóia! Mas é incontrolável.
Só acalmo quando vejo os coraçõezinhos a bater. E então o medo vira euforia.
Hoje é dia de consulta. Faltam 8 horas. Mas já tenho as pernas a tremer.
Dentro de mim há um turbilhão de esperança e derrotismo.

Ai cegonha que andaste perdida, vem devagar, devagarinho, traz com cuidados os meus meninos, por favor.

segunda-feira, 30 de junho de 2014

Como é bom receber sorrisos


Quando menos espero as pessoas surpreendem-me. Especialmente quando o seu percurso de vida raramente se traduz em afectuosidade. Mas há sempre um dia em que o sol brilha nas suas vidas dando-lhes a energia necessária para darem de si aos outros. Um simples gesto, um sorriso, um carinho… por vezes é quanto basta para ajudar o próximo.

O meu lema de vida foi-me ensinado por uma tia-avó: “Não me dês nada. Basta-me um sorriso e uma boa palavra!” E nunca a esquecerei. As suas palavras traduziam o seu jeito de viver, sempre com muita amabilidade e educação… sempre com um sorriso lindo.

Este fim de semana aprendi muito sobre a natureza humana. Por vezes aquilo que mais tememos descomplica-se e transforma-se em algo muito agradável. Um grito transforma-se em abraço. E o medo transforma-se em amor.

Cada ser humano é uma caixinha de surpresas… e é muito bom quando as surpresas são boas... muito bom!

quinta-feira, 26 de junho de 2014

O gatinho


Num jantar em família a Leonor de 3 anos olha para o seu prato, para o prato da mãe e para o prato do pai. A apontar para o pai comenta com a mãe: “Este gatinho come muito. Este gatinho é um gatinho comilão!”

Todos rimos, e o pai não conseguiu acabar de comer. Nada melhor que uma criança para fazer dieta…

segunda-feira, 23 de junho de 2014

Os abraços


Sempre gostei de abraçar - as pessoas que me são intimas, pois claro.
Sinto que quando nos abraçamos os nossos corações se tocam e batem com mais alegria.
Hoje contei uma boa notícia a duas amigas. Abraçaram-me... e emocionei-me.

Obrigada. Obrigada pelo abraço. Obrigada por sentirem tanta alegria por mim.

Senti-me amada. E como é bom sermos amados!

segunda-feira, 16 de junho de 2014

Regressei

Após uma semana de férias regressei ao trabalho... e custa tanto! Até dói..
Fui de férias mas o trabalho não parou de chegar.Por tal tinha um monte de tarefas à minha espera. Nem sabia por onde começar.
Sentei-me e olhei à minha volta, como se não soubesse onde estava. Tirei ao acaso uma tarefa. Comecei a executa-la, bem devagarinho.
- Um colega perguntou-me: "como foram as férias?".
- Respondi-lhe de forma melancólica: "ai, foram tão boas, fartei-me de passear. Descansei e diverti-me. Mesmo bom".
- "Óptimo. Vens cheia de energia."
- "Energia? Não! Gastei-a toda nas férias."

Ai! Custa tanto!

segunda-feira, 2 de junho de 2014

O monte



Este fim-de-semana fizeram-me uma surpresa. Abalámos cedo. Fui sem conhecer o meu destino e quando dei por mim estava no meio do Alentejo. Fiquei encantada. Adoro o campo: as cores e os cheiros entranham-se na alma e sinto-me a flutuar por mundo paralelos.
Ficámos numa casa medieval. Onde parecia que o tempo não tinha passado. Uma verdadeira relíquia. O quintal tinha laranjeiras. E que belas laranjas. Senti-me recuar até à minha infância enquanto apanhava fruta. Sujei-me toda mas estava tão feliz.
O expoente máximo foi a subida a um monte (no Alentejo também há montes altos, não é só planície). Que vista maravilhosa. Um verdadeiro oásis imaculado. Para subirmos tivemos de avançar entre arbustos cerrados seguindo o caminho dos javalis. Que mundo encantado. Lá no topo havia uma velha ermida tão linda. Ficámos a admirar a paisagem. Perante tanta beleza senti-me tão pequenina. Assustei-me com tanta imensidão. Não idealizava nada assim. 

Já viajei por muitos países. Já percorri muitos lugares, muitas cidades, muitos campos. Mas nunca tinha tido uma surpresa assim. Fiquei maravilhada com o estado selvagem e puro. 


No regresso o cansaço falou mais alto e adormeci no carro, quando acordei à porta de casa tive pena de ter voltado. Como desejei viver naquele mundo. Como desejei viver aquela vida…  


quarta-feira, 21 de maio de 2014

O presente mais lindo.



Sou terrível a embrulhar presentes. Ficam sempre tortos. O papel amachucado… uma vergonha!
Então de há uns anos para cá aprendi a fazer embrulhos de formas loucas: tipo rebuçado, tipo garrafa, tipo bola… tudo a não ter nada a ver com o presente em si. O melhor de tudo é que ficam extremamente engraçados, pois uso papeis muito coloridos e coloco tiras de papel (que faço na máquina de destruir papel) no lugar dos tradicionais laços. Talvez sejam excêntricos os meus embrulhos, mas agradam sempre quer a miúdos quer a graúdos (principalmente se já forem super séniores).
Ontem entreguei  um destes meus presentes ao filho de um colega, que fez três anos. Comprei-lhe um carro de madeira (muito barato, pois estamos em crise…). E o embrulho estava divinal. Embrulhei com papel verde fluorescente, e colei-lhe centenas de tiras em tom azulão. Parecia vindo doutra  galáxia. Resultado: o João não quis rasgar o papel, não se mostrou minimamente interessado no que estava no seu interior. E só dizia: “é o pesente que gosto mais”.
Hoje, o meu colega disse-me que o filho dormiu agarrado ao meu embrulho e que fez questão de o levar para o infantário. Devo dizer que o meu colega se revelou extremamente frustrado, pois gastou mais de 100€ em presentes que não tiveram mais de dois minutos de atenção do pequeno João.

Pois é, posso não saber fazer embrulhos elegantes. Mas o meu lado mais louco faz de mim uma verdadeira artista. Sucesso garantido!

terça-feira, 20 de maio de 2014

O silêncio


Por vezes queremos gritar ao mundo uma novidade, mas o bom senso aconselha o silêncio. E quanto mais tempo passa maior é a vontade… como gostava de falar o que não posso…
Por vezes carregamos dentro do nosso ser a maior alegria do mundo. Mas como o passado nos ensinou que a felicidade e o desgosto andam de mãos dadas, ficamos receosos e calamos-nos.
Hoje, uma amiga contou uma boa nova. A tentação de dizer simplesmente “eu também” foi descomunal. Fechei a boca, serrei os dentes e consegui conter-me. Mas o coração acelerou… posso controlar a boca, mas não o coração.

Por isso, vim aqui (ao meu cantinho virtual) para dizer:
                                                                                  “EU TAMBÉM”!

sexta-feira, 16 de maio de 2014

Ter paz


Por vezes exigimos demasiado da vida. Estamos sempre à espera que cada dia supere o anterior. Como se estivéssemos a percorrer uma escalada, cujo único objectivo é chegar mais alto.

Por vezes esquecemos o quanto é bom que a vida seja simples. Um dia calmo é na realidade um excelente dia. Sem surpresas, sem estímulos, sem conquistas, mas com muito sabor! Podermos chegar à noite com o sentimento de dever cumprido e receber paz como recompensa é um tesouro.

Por vezes só sabemos dar valor ao mel da vida quando encontramos o fel. Só depois de se perder a estabilidade é que se percebe o seu valor. Só quando se está mal é que se percebe o quanto se estava bem.


Nestas últimas semanas aprendi uma grande lição de vida. Enquanto nada acontece é porque tudo está bem. Enquanto tudo está na mesma há esperança de ser um grande dia. E a felicidade acontece!

quinta-feira, 15 de maio de 2014

72h de desodorizante


Que coisa é esta de um desodorizante durar 72h? Três dia sem banho? É isso? Como se passa três dias sem se lavar o corpo? Que estranho - quer para quem não se lava, quer para quem vende o produto, pois deve achar isso aceitável.
Bem, na realidade não é um desodorizante, mas sim um anti-transpirante! É difícil de encontrar um desodorizante que seja só desodorizante. Tal como muitos não referem a expressão anti-transpirante, mas referem anti-perspirante - que é a mesma coisa, apenas nos confunde e leva-nos a adquirir um produto que não queríamos.
Deve-se evitar os anti-transpirantes, pois irritam, inflamam, congestionam e prejudicam a pele. E a pele é o maior órgão que temos!
Conheço um conjunto de marcas que são só de desodorizantes. E sei onde se vendem. Por isso sou-lhes fiel.
Para quem tem problemas de pele, e outros mais graves, é um verdadeiro caos encontrar um simples desodorizante. Normalmente, encontram-se nas farmácias e para-farmácias... mas são muito mais caros.


terça-feira, 13 de maio de 2014

A aula de estatistica

prof-"A primeira coisa que voces não estão a ver muito bem..."
aluno 1- "Não estou a ver nada!"
prof- "O que não percebe?"
aluno 1- "Nem sei onde começar..."
prof- "Então vamos continuar. Não vale a pena parar e regressar onde não se sabe onde"
aluno 2- "Eu sei onde fiquei sem perceber do que está a falar. Desde o inicio da formação."
prof- "No fim esclareço essa duvida."

Todos os alunos se levantaram e sairam da sala. O último a sair disse ao professor: "Quando acabar chame-nos para nos esclarecer a duvida!"

Quando me contaram esta situação fiquei pasmada. Que coragem de alunos! Até podem ser burros, é verdade... mas temos que os elogiar pela coragem.

sexta-feira, 9 de maio de 2014

Caixa de latão


- Mãe, o que está nesta caixa?
- Velharias da tua avó. Não tive coragem de deitar fora quando morreu. Deixa estar, um dia deste deito no lixo.
Abri a caixa. Que mundo belo… vieram-me as lágrimas aos olhos. Naquela caixa de latão estava toda a história familiar dos meus avós maternos. Era uma caixa de latão que abarcava todo um mundo. Fotografias, cartas, flores secas, conchas, botões e moedas antigas coabitavam em silêncio. Todo um passado fechado e esquecido num canto.
- Olha, vou levar a caixa para a minha casa.
- Porquê tem alguma coisa de valor?
- Fotografias, cartas, flores secas… - fui interrompida.
- Lixo. Para que queres isso?
- A caixa é de latão dá-me jeito para colocar tralhas…- respondi, com mentira...
- Então lava-a e deita o resto fora.

Lixo? Não! Para mim é um tesouro.
Passei o fim de semana a colar as fotografias num álbum. Perto de cada foto deixei as suas cartas e postais. Embelezei algumas das folhas com as flores secas. Cozi os botões na capa em forma de coração. Com as moedas e conchas escrevi o titulo: “livro dos avós maternos”.

A vida dos meus avós passou, nada me resta deles. Tenho apenas as saudades e as recordações.

Guardei o álbum na bela caixa de latão. Estou a fazer outros álbuns sobre a restante família. Planeio guardar tudo nesta caixa. E um dia, espero, oferece-la a um filho como herança de família. Só desejo que esse filho tenha a capacidade de ver nela um tesouro e não um monte de velharias.

Saudades.

quarta-feira, 7 de maio de 2014

Gelado de manga


1 manga cortada em pedaços, congelada
1 iogurte natural
1 colher-chá mel
1 folha hortelã

Triturei tudo. Coloquei numa caixa e levei ao congelador mais 1 hora. Servi em tacinhas.

Sentámo-nos na varanda, a saborear a minha bela sobremesa. Ninguém acreditou que fui eu que fiz tal gelado. Teimaram até ao fim que o tinha comprado. Levantei-me e arrastei-os para a cozinha. Repeti a receita. Ar de espanto geral – “mas para fazer gelados não é preciso uma máquina?”. Respondi “sim, é preciso um congelador…”

Voltámos para a varanda. Comemos tudo. Alguém em tom de provocação: “tu não fizeste isto… é de compra, não é?”. Aí percebi. Meu Deus, que tonta ingénua! Estavam a gozar comigo… e eu a repetir a receita… e eles a comerem… ri tanto que me doeram os músculos da cara e da barriga. Santa ingenuidade. E eu é que tenho fama de ser gulosa…

terça-feira, 6 de maio de 2014

Mais um anjo no céu


Duas meninas de 4 anos brincavam no jardim. E falam da vida…
- “Tens irmãos?”
- “Sim. Somos três menos um…”
- “Como é isso?”
- “Eramos três, mas um foi para o céu.”
- “Fazer o quê?”
- “Agora é anjo. E a minha mãe diz que está no céu a proteger-nos.”



O céu está cheio de anjos. Lindos, bons e que deixam muitas saudades…


segunda-feira, 5 de maio de 2014

A responsabilidade nas minhas mãos

Sermos responsáveis por nós próprios é uma coisa, mas sermos responsáveis por outros é bem mais complicado.
Acordamos, cumprimos as nossas obrigações. Saboreamos os nossos direitos. Assumimos as nossas acções. Vivemos segundo as nossas responsabilidades. É-se cumpridor e tudo termina em nós.
Mas quando a vida de outros depende de nós é muito mais difícil. O mais pequeno e insignificante gesto pode prejudicar outra vida - que não tem como se defender e que depende totalmente de nós. Aí sente-se o real peso da responsabilidade. Vive-se já sem pensar em nós, mas no que fazer pelos outros. Cumprem-se as obrigações mas de coração nas mãos… “Será? Será que está tudo bem??? Tomei a decisão correcta?” Somos simples humanos, mas por vezes carregamos uma responsabilidade do tamanho do mundo.
Não é fácil decidir quando o fazemos pelos outros. Não é fácil decidir e sermos os responsáveis dessa decisão!

Hoje é um desses dias em que tenho o coração nas mãos …

quarta-feira, 30 de abril de 2014

A duvida

Alguém me sabe dizer porque razão nunca consigo ter sossego?
Porque é que tenho de andar de coração nas mãos?
A vida é tão simples.
Mas a minha vida é complicada, porquê?
Mesmo fazendo tudo direitinho, há sempre alguma coisa que vem torta...
Só desejo coisas simples, que normalmente todos podem desejar. Mas raramente os meus desejos se realizam! E quando se realizam é com sofrimento...
Talvez seja meu o problema que causa tanto desanimo, mas a verdade é que não sei consertar tamanho defeito. Nem tão pouco o sei identificar...

Joaninha, voa voa... vem até mim e traz notícia boa!!!

(imagem in http://www.jardimdasideias.com.br/314-a_joaninha)






segunda-feira, 28 de abril de 2014

Sono... muito sono


Tenho muito sono. Mal me aguento em pé. Dormi toda a noite mas não foi suficiente. Preciso de dormir mais. Fechei os olhos, por breves instantes. Penso que adormeci… e sonhei logo. Que sonho estranho: sonhei com mel e alecrim… que maravilha de odores. Tão doces e campestres.
Agora, que acordei, para além de sono tenho fome… fome por mel!
A caminho da cozinha, alguém me seguiu e ao ver- me pegar no frasco de mel disse:
-“Gulosa”.
- Respondi simplesmente: “gulosa não, sonolenta. Sonhei com mel e alecrim…”.
- “Se não és gulosa porque não foste à procura de alecrim? Gulosa”
- “No meio da cidade onde encontro alecrim? Tenho que recorrer ao que há…”

Há pouco, os meus colegas deram -me um presente: um vaso de alecrim. Respondi-lhes
- “Que maravilha. Alecrim. Vou buscar o frasco de mel e comer com o cheirinho de alecrim”.
- Responderam em uníssono: “Gulosa”

Ri tanto que me ia engasgando com o mel. Ai, sim, sou gulosa! Que bom que é mel e alecrim.

quinta-feira, 24 de abril de 2014

Chorar de alegria


Ontem chorei de alegria. Todo o meu corpo tremia. Tanta ansiedade que se transformou em alegria pura. Vivi o princípio do  sonho… do meu sonho… ai, como é bom sonhar.
Tanta luta… tantas batalhas perdidas… tantas decepções… um grande desgosto…. E pela primeira vez surge uma luz de esperança.
É apenas o início de uma longa caminhada. Mas foi tão difícil encontrar o caminho!
Só espero que não surjam obstáculos intransponíveis.
Só espero chegar ao fim da viagem.. com tudo bem…
Meu sonho azul…


Meu amor: obrigada!


terça-feira, 22 de abril de 2014

A não cabra


A cabra de tom oxigenado dá coice. Vive no vale, mas com atitude de cabra de montanha. É fria, calculista, mal dizente e muito má. Uma cabra a sério. A cabra mói e remói e arma-se em parva. Ninguém a suporta. E quanto mais cabra é, mais só fica. E quanto mais isolada mais cabra se revela.
Fui falar com ela. Fui tentar fazê-la descer à terra e perceber que em vez de cabra é melhor ser girafa, zebra ou elefante. São mais calmos e também mais admirados… Mais vale que falem de nós por gosto do que por desgosto.  Em vez de coices ofereça-se sorrisos e vai-se ver quanto a vão bem-querer.
Falei… falei… falei… tentei sintetizar tudo de forma breve e ligeira. Senti-me parva ao início. No entanto, talvez por vergonha acalmou-se e começou a ouvir. Pedi-lhe que ouvisse o meu ponto de vista que depois ouviria o dela. Não ataquei, não critiquei, nem censurei. Nunca falei dela, falei de mim – do que fiz e do que senti. Expliquei todo o processo de olhos nos olhos, mas com um sorriso nos lábios. Mostrei-lhe tudo o que me envolvia. E pedi-lhe que me falasse tudo o que quisesse, que a ouviria. E assim foi. Percebeu que não a queria atacar. Acabou por se descontrair. Esclareceu-se tudo o que havia para esclarecer. Pela primeira vez sorriu (e até me pareceu mais bonita). No fim fiquei satisfeita. Conseguimos conversar de ser humano para ser humano. Quando se foi embora levava um brilhozinho nos olhos, virou-se para mim e disse: “obrigada por me dar uma oportunidade de esclarecer um mal-entendido”. Sorri-lhe e disse “conte sempre com isso”.  Não sou parva, sei que não seremos as melhores amigas, mas pelo menos teremos respeito mutuo. Em vez de fechar uma porta, abri uma janela!

Nem sempre se consegue isto. Já tive muitas situações de insucesso. Situações que até pioraram com a conversa (que acabou com a outra pessoa aos berros e eu de boca aberta, feita tolinha). Mas hoje fiquei mesmo satisfeita. Consegui falar de forma pacificadora e com assertividade. Resultou para ambas as partes, sem vencidos nem vencedores. Fiquei feliz por mim e por ela.


Tenho pena que a vida em sociedade seja tão difícil. Tenho pena que as pessoas que se fecham em arame farpado não consigam ver o novelo em que se meteram. Tenho pena que não sejamos capazes de conversar calmamente e esclarecer os mal-entendidos. Tenho pena de não se minimizar. Para quê complicar o que pode ser simples… se é na simplicidade da vida que encontramos as coisas mais belas…

segunda-feira, 21 de abril de 2014

Sonho de primavera


Hoje sonhei que era um belo dia de primavera… mas quando acordei estava escuro e a chover… Adoro passear pelos campos floridos… com um pouco de sol. Mesmo que chova, não faz mal. Mas que haja um pouco de sol. Tudo fica mais belo.
Sonhei que estava num imenso prado, cheio de papoilas vermelhas e margaridas brancas. Ao longe um rebanho de ovelhas pastava livremente. Ouvia-se o chilrear dos passarinhos. Cheirava a verde…e sentia o calor do sol no meu rosto. Caminhava sem destino. Lembro-me que falava com alguém quando me sentei no meio das flores. Lembro-me de dizer: “que bom… é primavera… as papoilas estão tão belas, não achas?”. Depois acordei, extremamente confusa – não sabia onde estava… quando me apercebi que era apenas um sonho quis voltar a adormecer, mas já não consegui… que pena, estava tão bem naquele sonho colorido.


A meio do caminho para o trabalho uns raios de sol romperam a espessa nuvem e brindaram-me pela janela do autocarro. Sorri. Que bem que me senti. Uma senhora observava-me e sem se conter disse-me: “que bom, o sol voltou”.  

quarta-feira, 16 de abril de 2014

Olha o passarão…


Hoje vim de boleia com um amigo. Estava stressado por causa do chefe:

«Há gente que me tira do sério. Há gente que só veio ao mundo para tornar a vida do próximo mais difícil. O pior é quando estão em posições de poder. E é o caso do merdasman: subiu na horizontal, não tem currículo académico, não tem experiência profissional. No entanto, o currículo é gigante em chefias. Saltita de poso em poso, mas sempre a subir. Não fica muito tempo em cada lugar, mas o lastro que deixa… Com tanta gente boa e competente como é que só se recompensam os merdasmen?  
E que fazemos nós para mudar isto? Bem, eu nada. Ao longo da vida aprendi que lutar contra a maré deixa-nos molhados. Por isso vou refilando e espero que mudem as moscas.
E como se deve lidar com os merdamen? Aprendi com um psicólogo meu amigo: nunca se diz que sim nem que não, para não nos comprometermos com os seus jogos. Diz-se “estou a compreender o seu ponto vista”, e repete-se sempre que for necessário. Tudo deve ser tratado por escrito. E sempre que se cumpre uma ordem, deve-se indicar que se está a cumprir o estipulado pelo chefe. A responsabilidade a quem de direito… E isto resulta? Pelo menos alivia-nos e permite-nos sobreviver.»

Ouvi-o e tentei acalmá-lo. Sei que tem razão. Aconselhei-o a pensar nas pessoas com valor, quer a nível de conhecimentos quer a nível de trabalho. E felizmente não são poucos. Neste país podemos orgulharmo-nos de ter muita gente que serve de exemplo pela positiva. Podem não ser recompensados mas são uma grande recompensa para quem tem o prazer de trabalhar com eles. Fico feliz sempre que encontro pessoas que me tornam mais rica mentalmente, quer pelo estimulo quer pela aprendizagem. E é assim que se esquecem os merdamen… só prestando atenção a quem a merece.  

Quando chegámos a Lisboa convidei-o para beber um café. Sentámos-nos. Para finalizar a conversa perguntei-lhe “como se chama o tal chefe?” ao que me respondeu “sei lá todos lhe chamam o merdasman”. O que nos rimos. "O merdasman não tem nome"… acho que a partir de hoje o meu amigo se vai descontrair sempre que tiver de lidar com o seu chefe… o tal que não tem nome…

terça-feira, 15 de abril de 2014

A Páscoa

A Páscoa, para os antigos nórdicos era a passagem do Inverno à Primavera, e os camponeses ofereciam ovos uns aos outros porque o ovo é símbolo de vida, símbolo de fertilidade. 
Para os judeus é a celebração da liberdade (fuga dos hebreus da escravidão do Egipto).  Para os cristãos é época de ressurreição, de renascimento. Todos mantiveram a oferta de ovos. Todos oferecem esperança, todos oferecem uma vida nova.
Mas nesta Páscoa o ovo, é para mim, símbolo de boa vontade, de altruísmo e de amor ao próximo. Este ano aprendi que o altruísmo existe. Após muitas decepções, recuperei a fé na humanidade. E de forma tão natural, tão bela e pura. Este ano aprendi a ser melhor pessoa. Obrigada!Votos de uma Páscoa feliz, com muitos ovinhos...

segunda-feira, 14 de abril de 2014

A fotografia


Aquela fotografia tão bela e delicada. Cada contorno tão singular, tão lindo, tão divinal. Ao observa-la, os meus olhos encheram-se  de lágrimas, de tão maravilhosos pormenores . Momento único na vida imortalizado para sempre.
Quanto amor despertou em mim tão precária existência. Fragilidade celestial.
E o único pensamento que se afigura na minha alma, é o desejo que a imagem se torne realidade.

Por favor, Realiza o meu desejo… imploro…

quinta-feira, 10 de abril de 2014

Segunda Infância

Autocarro, Lisboa, 7:45h
- Idosa: Olha, lá vão eles a dar jornais. Pra quê a asa nas costas? Parecem tolos.
- motorista: São os rapazes do Destak, e a “asa” é para os condutores os verem.
- idosa: Em vez de porem estes malandros a trabalhar andam a dar jornais…
- motorista: mas eles estão a trabalhar, minha Sra.!
- idosa: Não. A mim não me enganam com essa conversa. Andam por aí espalhados a verem o que as pessoas fazem… a hora a que entram e saem… para depois roubarem. Malandragem de asa no ar…

Gargalhada geral. Nunca tinha presenciado uma teoria de conspiração destas. O certo é que a partir de agora sempre que vir um distribuidor do Destak vou ter que controlar o riso…


O Inverno da vida pode ser muito confuso… muito triste… e amargo. Poucos idosos conseguem manter um sorriso, construir um pensamento positivo, ou olhar de frente. E o mais triste é que nem sempre está relacionado com as dificuldades que passaram ou com os desgostos que tiveram. A perda das capacidades físicas e mentais é inevitável. Espero que quando chegar à segunda infância ter conseguido conservar o mel da vida, em vez de mergulhar no fel da existência. É um medo que tenho, o de perder o raciocínio crítico. A degeneração celular ainda não pode ser travada nem invertida, mas que ao menos que seja muito lenta… Desejo apenas que quando a velhice chegar, que a minha alma não me abandone. Mas e saber como se faz… Alimentação? Exercício mental? Actividade física? Qual é o truque? Ou é apenas uma questão de sorte?

segunda-feira, 7 de abril de 2014

Amor incondicional

“Os pais podem não gostar dos filhos, mas vão sempre amá-los.” Aprendi isto há pouco tempo. Ouvi numa conversa alheia à minha pessoa. Primeiro não gostei da frase, mas depois compreendi e aceitei. Sim, apesar da educação ser da responsabilidade dos pais, por vezes o ser humano segue caminhos que não se coadunam com o exemplo familiar. Por vezes os filhos tomam decisões que magoam os pais, como era o caso da conversa que ouvi: uma filha que seguiu o trilho do crime. Mas continua a ser A filha, e continua a ser amada por seus pais.
O amor dos pais, quando existe (porque nem todos os pais são pais…) é incondicional. Haja o que houver, vão amar aqueles que educaram, que criaram, e que foram o objectivo principal das suas vidas.

Não há relações perfeitas. Não há famílias perfeitas. Não há pais e filhos perfeitos. Não há amor perfeito.

Mas há amor? Então tudo está perfeito.

domingo, 6 de abril de 2014

No País de Abris


Abril, mês de um dia para os mais velhos. Recordam e festejam o 25º dia. Cravos e mais cravos na lapela. Falam de tanques. Canonizam os exilados e presos políticos. Todos sabem o que fizeram nesse dia: saíram à rua! Mas poucos fizeram esse dia. E até desses, alguns já apareceram a confessar arrependimento por mudarem o rumo da história, entregando o País de Abril aos que agora o conduziram à falência.
Mas, e o que pensam os mais novos? Aqueles que nasceram vinte e trinta anos depois, gostam do feriado mas não "curtem" a conversa de "nurd" do avô... "cravos e tanques, o velho não fala de outra coisa"...
Mas estão assim tão errados por este dia nada lhes dizer? Vejamos, quantos Portugueses sabem porque se celebra o dia 1 de Dezembro? Dia da Restauração! E restauração do quê?  Da restauração da nossa soberania! Da Independência dos Filipes em 1640! Dia da liberdade! Desde 1910 que era Feriado Nacional. Era o feriado civil mais antigo... Mas já não é porque para os que nasceram após 1640, num país livre, já não faz sentido falar de tal. Não viveram, não sentiram...
Este é um país de muitos Abris... até ao dia em que ninguém tenha vivido o tal Abril da liberdade... até dar jeito a um governo qualquer dizer que se poupa dinheiro se não o festejarmos.
Que pena não sabermos transmitir tão grandiosos valores aos mais novos. Que pena ser conversa de nurd!

sexta-feira, 28 de março de 2014

Sândalo e Jasmim

Adoro sândalo e jasmim. São os meus ésteres favoritos. Fragrâncias doces e campestres. Associo-os a requinte natural. Para mim são perfumes. E uso-os desse modo.
Ontem fui a casa de um casal muito meu amigo. E serviram-me uma tisana de jasmim. De início não me apercebi que o belo cheiro a jasmim que senti ao entrar na casa deles era para ser bebido. Pensei ser um qualquer difusor de perfume ambiente. Mas quando me colocaram o chá na chávena fiquei horrorizada. Eu a beber o meu perfume? Tentei. Beberiquei. Corei. Franzi as ventas e comecei com vontade de vomitar. Ficaram surpresos com a minha reacção: “mas estás sempre a dizer que adoras jasmim…” – “sim, adoro. Mas em perfume. Desculpem, não consigo beber”.  Os meus amigos já estão habituados às minhas esquisitices, alergias e fobias… sou sempre eu a dar barraca nos restaurantes com a lista de alimentos que não posso ou não consigo comer. Acabei por beber chá verde. E soube-me mesmo bem. Mas adorei o perfume de jasmim que se sentia no ar.
Quando nos despedimos, disse-lhes: “também adoro sândalo, mas por favor nunca mo sirvam assado com carne ou peixe, tá?”. Gargalhada geral.

Ontem descobri que há coisas maravilhosas para o nariz que não me servem para a boca. Que pena. Adoro jasmim.
Hoje, ao preparar-me para sair de casa descobri uma partidinha - um pacote de chá de jasmim na mala com um recadinho: "chá de jasmim para te lembrares de nós". Como é bom começar o dia assim. Sai de casa a rir. Feliz com a minha patetice. Obrigada, meus queridos. Nunca me esquecerei de vocês. E vou guardar este pacote de jasmim na minha arca de memórias. Jasmins da minha vida!

sexta-feira, 14 de março de 2014

O voo

Uma gaivota levantou voo. Mesmo rasante à minha cabeça. Os primeiros bater-de-asas foram desengonçados. Desequilíbrio aerodinâmico. Fiquei a olha-la. Desejei segui-la. Era tão giro se de repente eu começasse a voar. Ui, ninguém me parava. Percorria o mundo todo. Visitava todos os povos. Que voo maravilhoso… liberdade… liberdade…
Mas depois pensei: e os predadores? Não, é melhor continuar sem asas. No fundo é o que sempre fizemos, trocámos a liberdade pela segurança. Temos pernas, podemos correr por este mundo fora e não o fazemos…  até porque maior medo que o do perigo é o da solidão. Voar podia ser bom, mas só e sem destino seria muito triste.

A gaivota afastou-se, seguiu o grupo. Lá no alto pareciam observar-nos. Continuei o meu caminho, olhei por cima do ombro, sentindo-me seguida  - como se o bando me acompanhasse. Depois vi-as partir em direcção oposta. Adeus gaivota, voa por mim, voa!

sexta-feira, 7 de março de 2014

Crianças

Adoro crianças. Amo aqueles olhinhos sedentos de descobertas. As birras, as manhas, as gargalhadas e o som de “mã”. As cianças são a esperança da humanidade. Um adulto já está formado, nada será recuperado. Mas uma criança é massa pura por moldar. Uma criança tem potencialidades ilimitadas. Adoro crianças.

Nunca percebi o que leva um adulto a maltratar uma criança. Pena capital. Pecado mortal. Não tenho perdão para quem maltrata crianças.
O Valentim é filho de pais separados. A mãe vive o maior pesadelo da sua vida: tem de aceitar que o filho vá todos os fins de semana com o pai que não o quer – mas é a ordem do tribunal. O menino, de 2 anos, chega todos os domingos dominado pelo desespero, agarra-se a ela e treme de medo e de cansaço. No último fim-de-semana o Valentim chegou com marcas. A mãe pegou no menino e levou-o ao hospital. Foi registada queixa. Agora o tribunal proibiu o pai de ver o menino – pai este que nem perguntou se o Valentim estava bem…

Porque razão os tribunais obrigam as crianças a sofrer? Custódia partilhada??? Que raio! Dizem que os pais têm de se entender. Mas que parolice. Se os pais se entendessem não se estavam a divorciar no litigioso!!! E porque razão só se actua quando o mal está feito? A justiça tem de ser cega e não estúpida. Há mães e mães, há pais e pais. Uns não podem pagar pelos outros. A educação de um filho não é algo que se trata de modo generalista, mas deve ser diferenciada, ou seja adaptada a cada realidade. E se os Srs. Juízes levantassem-se das cadeironas e fizessem visitas surpresas às mães e aos pais… que tal observar in locuo em vez de ditarem apenas frases feitas. Aplicar leis não tem de ser de modo destruidor.
As crianças precisam de modelos femininos e masculinos nas suas vidas. Precisam de mãe e pai. Não precisam de monstros aos quais se dá o titulo de pai ou mãe, só porque tiveram relações sexuais. As crianças precisam de amor e não de dor.


Valentim, meu lindo amor, se soubesses o quanto compreendo as tuas lágrimas… O meu coração reza por ti. Tem esperança, um dia o sol irá brilhar sem nuvens… acredita… acredita!

quinta-feira, 6 de março de 2014

Flores de Inverno

Desde o mês passado que as ameixoeiras estão em flor. A rua onde moro está linda. De manhã, ao sair para o trabalho, sinto-me tão bem ao olhar para tão delicadas flores. Que poema vivo tão belo.

Gosto do frio e da chuva. Mas adoro o sol e as flores. Como é bom correr em campos floridos. Subir às árvores e contemplar tão maravilhoso cenário… e as memórias que se despertam… alegria pura!


Pela manhã, ao olhar tão delicadas flores, dou por mim a viajar mundo fora. O corpo desloca-se de forma rotineira, mas a alma voa para tão longe. Chego ao trabalho com um sorriso nos olhos. Até pareço outra…

segunda-feira, 3 de março de 2014

Ser diferente

Tenho um defeito numa vértebra. Provoca-me inflamações ciáticas constantes. Nasci assim. Cresci a aprender a adaptar-me às dores. Nem sempre é fácil. Nunca me conformei e por isso esforço-me para levar uma vida sem diferenças.

Sou doadora de sangue. Faço aos outros o que gosto que me façam a mim. Ajudo porque seria impensável ser de outro modo. No outro dia, no trabalho houve uma campanha para inscrição de doadores de medula óssea. Aproveitei e ofereci-me logo. Ao entregar os documentos a médica perguntou-me se tinha algum problema na coluna. Respondi que sim e expliquei-lhe tudo - “Ó que pena, não pode ser doadora de medula. Nem pensar em qualquer tipo de intervenção que possa agravar o seu estado.” Fiquei triste. Sou diferente. Sou anómala… É a vida! Podia ser pior. Apesar de tudo consigo ser independente. 
Sou diferente, mas  feliz. O que é bom, muito bom.

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Pão com açúcar

Em criança levávamos o lanche para a escola.
Nos momentos piores da vida só havia manteiga e açúcar para rechear o pão. E era o que mais gostava. O quanto adorava sentar-me debaixo de uma árvore no recreio, com as minhas amiguinhas, a comer pão com manteiga e açúcar. E para acompanhar leite frio – não em pacote, porque os pacotes pequeninos eram caros, levava um copo de plástico com leite (cuja tampa estava sempre a saltar e molhava os meus cadernos).
Lembro-me de comermos depressa, porque os meninos que não tinham nada vinham roubar-nos. Lembro-me de por vezes pedir à minha mãe para levar dois pães para a escola. Nunca lhe disse o porquê, mas custava-me tanto ter meninos na minha escola que não tinham um pãozinho para o lanche. Crianças que hoje são homens e mulheres, que se fizeram à luta e construíram as suas vidas com esforço e muita coragem. Foi há trinta anos, mas nunca esqueci aqueles rostos de desconsolo.
Hoje no autocarro estava uma mãe com seu filho. Tinham aspecto muito humilde (mas asseado). O menino sentou-se ao meu lado e reparei que estava a comer pão com manteiga e açúcar. Pisquei-lhe o olho e disse-lhe que era o meu favorito. Ele respondeu-me “também é o meu, quando não há queijo”.

Quando não há queijo… fiquei de coração partido… ao fim de trinta anos, tudo está igual… que mundo estranho este… que tristeza!

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

O choninhas


O choninhas é um homem de bata branca que conheço. Vive com ar de enjoado. Fala como se fosse uma criança. Encosta-se a todos – trabalho não é com ele! “Tás a ver”… “Tás a ver”… Se chega tarde é porque foi fazer “a vacina das alergias”… Se sai cedo é porque vai “buscar o miúdo à escola”…
O choninhas é evitado por todos e à conta disso vive no desfrute de um emprego que tantos desejavam ter, sem fazer nada para o merecer.
Há uma semana o choninhas pediu-me um escadote emprestado. Tudo bem, apenas lhe disse para o devolver rapidamente pois estávamos a precisar dele no laboratório. Passou uma semana. Uma semana em que estivemos equilibrados em cadeiras.  Uma semana em que todos me chateavam por ter emprestado o escadote ao choninhas. Assim que o vi perguntei-lhe se ainda precisava do escadote. Respondeu-me que “não, mas que tinha encostado o escadote a um armário e esqueceu-se, mas que quando tivesse tempo o trazia”. Respondi-lhe: Quando mo vieste pedir emprestei-to logo. Por isso levanta esse cu de choninhas da cadeira e vai busca-lo, já!”
E o choninhas foi. E o choninhas entregou-mo com ar de ofendido. Mas enganou-se, porque isto de abusar é até o primeiro começar a refilar. Foi ver todos os colegas a pedirem-lhe coisas de volta… e não sei porquê mas todos começavam a frase da mesma forma: “Oh choninhas, ainda precisas de…”

Bem… no dia seguinte o choninhas meteu baixa…  

domingo, 9 de fevereiro de 2014

O poder do amor

Em mim o amor tem muito poder… consegue que uma lágrima se transforme num maravilhoso sorriso.
Estive muito em baixo. A fazer luto. Senti-me muito só. Bati no fundo. Afastei-me.
Mas quando menos esperava, o amor veio e consolou-me. Na fusão dos corpos, renasci. 
Afinal, é por amor que vivo a minha luta. E é óbvio que só o amor me podia dar vida de novo.
Atravessei momentos de tristeza profunda. E num simples instante de amor voltei a sentir o prazer de viver.
Falo de amor verdadeiro. 
Falo de cumplicidade, carinho, amizade, compreensão, respeito. 
E de beijos.
E de abraços.
E de paixão dos corpos.
Falo de amor verdadeiro.
Como o florescer. Tal como na primavera os campos se inundam de cor, assim, no amor a minha alma recuperou a esperança.
Voltei a sorrir.
Voltei a rir à gargalhada, como sempre gostei.
Voltei a sentir.

Meu amor!