Autocarro, Lisboa, 7:45h
- Idosa: Olha, lá vão eles a dar jornais. Pra quê a asa nas
costas? Parecem tolos.
- motorista: São os rapazes do Destak, e a “asa” é para os
condutores os verem.
- idosa: Em vez de porem estes malandros a trabalhar andam a
dar jornais…
- motorista: mas eles estão a trabalhar, minha Sra.!
- idosa: Não. A mim não me enganam com essa conversa. Andam
por aí espalhados a verem o que as pessoas fazem… a hora a que entram e saem…
para depois roubarem. Malandragem de asa no ar…
Gargalhada geral. Nunca tinha presenciado uma teoria de
conspiração destas. O certo é que a partir de agora sempre que vir um
distribuidor do Destak vou ter que controlar o riso…
O Inverno da vida pode ser muito confuso… muito triste… e
amargo. Poucos idosos conseguem manter um sorriso, construir um pensamento
positivo, ou olhar de frente. E o mais triste é que nem sempre está relacionado
com as dificuldades que passaram ou com os desgostos que tiveram. A perda das
capacidades físicas e mentais é inevitável. Espero que quando chegar à segunda
infância ter conseguido conservar o mel da vida, em vez de mergulhar no fel da
existência. É um medo que tenho, o de perder o raciocínio crítico. A
degeneração celular ainda não pode ser travada nem invertida, mas que ao menos
que seja muito lenta… Desejo apenas que quando a velhice chegar, que a minha
alma não me abandone. Mas e saber como se faz… Alimentação? Exercício mental?
Actividade física? Qual é o truque? Ou é apenas uma questão de sorte?
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