- Mãe, o que está nesta caixa?
- Velharias da tua avó. Não tive coragem de deitar fora
quando morreu. Deixa estar, um dia deste deito no lixo.
Abri a caixa. Que mundo belo… vieram-me as lágrimas aos
olhos. Naquela caixa de latão estava toda a história familiar dos meus avós
maternos. Era uma caixa de latão que abarcava todo um mundo. Fotografias,
cartas, flores secas, conchas, botões e moedas antigas coabitavam em silêncio.
Todo um passado fechado e esquecido num canto.
- Olha, vou levar a caixa para a minha casa.
- Porquê tem alguma coisa de valor?
- Fotografias, cartas, flores secas… - fui interrompida.
- Lixo. Para que queres isso?
- A caixa é de latão dá-me jeito para colocar tralhas…- respondi, com mentira...
- Então lava-a e deita o resto fora.
Lixo? Não! Para mim é um tesouro.
Passei o fim de semana a colar as fotografias num álbum.
Perto de cada foto deixei as suas cartas e postais. Embelezei algumas das
folhas com as flores secas. Cozi os botões na capa em forma de coração. Com as
moedas e conchas escrevi o titulo: “livro dos avós maternos”.
A vida dos meus avós passou, nada me resta deles. Tenho apenas
as saudades e as recordações.
Guardei o álbum na bela caixa de latão. Estou a fazer outros
álbuns sobre a restante família. Planeio guardar tudo nesta caixa. E um dia,
espero, oferece-la a um filho como herança de família. Só desejo que esse filho
tenha a capacidade de ver nela um tesouro e não um monte de velharias.
Saudades.
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