terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Pão com açúcar

Em criança levávamos o lanche para a escola.
Nos momentos piores da vida só havia manteiga e açúcar para rechear o pão. E era o que mais gostava. O quanto adorava sentar-me debaixo de uma árvore no recreio, com as minhas amiguinhas, a comer pão com manteiga e açúcar. E para acompanhar leite frio – não em pacote, porque os pacotes pequeninos eram caros, levava um copo de plástico com leite (cuja tampa estava sempre a saltar e molhava os meus cadernos).
Lembro-me de comermos depressa, porque os meninos que não tinham nada vinham roubar-nos. Lembro-me de por vezes pedir à minha mãe para levar dois pães para a escola. Nunca lhe disse o porquê, mas custava-me tanto ter meninos na minha escola que não tinham um pãozinho para o lanche. Crianças que hoje são homens e mulheres, que se fizeram à luta e construíram as suas vidas com esforço e muita coragem. Foi há trinta anos, mas nunca esqueci aqueles rostos de desconsolo.
Hoje no autocarro estava uma mãe com seu filho. Tinham aspecto muito humilde (mas asseado). O menino sentou-se ao meu lado e reparei que estava a comer pão com manteiga e açúcar. Pisquei-lhe o olho e disse-lhe que era o meu favorito. Ele respondeu-me “também é o meu, quando não há queijo”.

Quando não há queijo… fiquei de coração partido… ao fim de trinta anos, tudo está igual… que mundo estranho este… que tristeza!

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