Em criança levávamos
o lanche para a escola.
Nos momentos
piores da vida só havia manteiga e açúcar para rechear o pão. E era o que mais
gostava. O quanto adorava sentar-me debaixo de uma árvore no recreio, com as
minhas amiguinhas, a comer pão com manteiga e açúcar. E para acompanhar leite
frio – não em pacote, porque os pacotes pequeninos eram caros, levava um copo
de plástico com leite (cuja tampa estava sempre a saltar e molhava os meus cadernos).
Lembro-me de
comermos depressa, porque os meninos que não tinham nada vinham roubar-nos.
Lembro-me de por vezes pedir à minha mãe para levar dois pães para a escola.
Nunca lhe disse o porquê, mas custava-me tanto ter meninos na minha escola que
não tinham um pãozinho para o lanche. Crianças que hoje são homens e mulheres,
que se fizeram à luta e construíram as suas vidas com esforço e muita coragem.
Foi há trinta anos, mas nunca esqueci aqueles rostos de desconsolo.
Hoje no
autocarro estava uma mãe com seu filho. Tinham aspecto muito humilde (mas
asseado). O menino sentou-se ao meu lado e reparei que estava a comer pão com manteiga
e açúcar. Pisquei-lhe o olho e disse-lhe que era o meu favorito. Ele
respondeu-me “também é o meu, quando não há queijo”.
Quando não
há queijo… fiquei de coração partido… ao fim de trinta anos, tudo está igual…
que mundo estranho este… que tristeza!
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