A cabra de tom oxigenado dá coice. Vive no vale, mas com
atitude de cabra de montanha. É fria, calculista, mal dizente e muito má. Uma
cabra a sério. A cabra mói e remói e arma-se em parva. Ninguém a suporta. E
quanto mais cabra é, mais só fica. E quanto mais isolada mais cabra se revela.
Fui falar com ela. Fui tentar fazê-la descer à terra e
perceber que em vez de cabra é melhor ser girafa, zebra ou elefante. São mais
calmos e também mais admirados… Mais vale que falem de nós por gosto do que por
desgosto. Em vez de coices ofereça-se
sorrisos e vai-se ver quanto a vão bem-querer.
Falei… falei… falei… tentei sintetizar tudo de forma breve e
ligeira. Senti-me parva ao início. No entanto, talvez por vergonha acalmou-se e
começou a ouvir. Pedi-lhe que ouvisse o meu ponto de vista que depois ouviria o
dela. Não ataquei, não critiquei, nem censurei. Nunca falei dela, falei de mim –
do que fiz e do que senti. Expliquei todo o processo de olhos nos olhos, mas
com um sorriso nos lábios. Mostrei-lhe tudo o que me envolvia. E pedi-lhe que me
falasse tudo o que quisesse, que a ouviria. E assim foi. Percebeu que não a
queria atacar. Acabou por se descontrair. Esclareceu-se tudo o que havia para
esclarecer. Pela primeira vez sorriu (e até me pareceu mais bonita). No fim
fiquei satisfeita. Conseguimos conversar de ser humano para ser humano. Quando
se foi embora levava um brilhozinho nos olhos, virou-se para mim e disse: “obrigada
por me dar uma oportunidade de esclarecer um mal-entendido”. Sorri-lhe e disse “conte
sempre com isso”. Não sou parva, sei que
não seremos as melhores amigas, mas pelo menos teremos respeito mutuo. Em vez
de fechar uma porta, abri uma janela!
Nem sempre se consegue isto. Já tive muitas situações de insucesso. Situações que até pioraram com a conversa (que acabou com a outra
pessoa aos berros e eu de boca aberta, feita tolinha). Mas hoje fiquei mesmo
satisfeita. Consegui falar de forma pacificadora e com assertividade. Resultou para ambas
as partes, sem vencidos nem vencedores. Fiquei feliz por mim e por ela.
Tenho pena que a vida em sociedade seja tão difícil. Tenho
pena que as pessoas que se fecham em arame farpado não consigam ver o novelo em
que se meteram. Tenho pena que não sejamos capazes de conversar calmamente e
esclarecer os mal-entendidos. Tenho pena de não se minimizar. Para quê
complicar o que pode ser simples… se é na simplicidade da vida que encontramos
as coisas mais belas…
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