sexta-feira, 28 de março de 2014

Sândalo e Jasmim

Adoro sândalo e jasmim. São os meus ésteres favoritos. Fragrâncias doces e campestres. Associo-os a requinte natural. Para mim são perfumes. E uso-os desse modo.
Ontem fui a casa de um casal muito meu amigo. E serviram-me uma tisana de jasmim. De início não me apercebi que o belo cheiro a jasmim que senti ao entrar na casa deles era para ser bebido. Pensei ser um qualquer difusor de perfume ambiente. Mas quando me colocaram o chá na chávena fiquei horrorizada. Eu a beber o meu perfume? Tentei. Beberiquei. Corei. Franzi as ventas e comecei com vontade de vomitar. Ficaram surpresos com a minha reacção: “mas estás sempre a dizer que adoras jasmim…” – “sim, adoro. Mas em perfume. Desculpem, não consigo beber”.  Os meus amigos já estão habituados às minhas esquisitices, alergias e fobias… sou sempre eu a dar barraca nos restaurantes com a lista de alimentos que não posso ou não consigo comer. Acabei por beber chá verde. E soube-me mesmo bem. Mas adorei o perfume de jasmim que se sentia no ar.
Quando nos despedimos, disse-lhes: “também adoro sândalo, mas por favor nunca mo sirvam assado com carne ou peixe, tá?”. Gargalhada geral.

Ontem descobri que há coisas maravilhosas para o nariz que não me servem para a boca. Que pena. Adoro jasmim.
Hoje, ao preparar-me para sair de casa descobri uma partidinha - um pacote de chá de jasmim na mala com um recadinho: "chá de jasmim para te lembrares de nós". Como é bom começar o dia assim. Sai de casa a rir. Feliz com a minha patetice. Obrigada, meus queridos. Nunca me esquecerei de vocês. E vou guardar este pacote de jasmim na minha arca de memórias. Jasmins da minha vida!

sexta-feira, 14 de março de 2014

O voo

Uma gaivota levantou voo. Mesmo rasante à minha cabeça. Os primeiros bater-de-asas foram desengonçados. Desequilíbrio aerodinâmico. Fiquei a olha-la. Desejei segui-la. Era tão giro se de repente eu começasse a voar. Ui, ninguém me parava. Percorria o mundo todo. Visitava todos os povos. Que voo maravilhoso… liberdade… liberdade…
Mas depois pensei: e os predadores? Não, é melhor continuar sem asas. No fundo é o que sempre fizemos, trocámos a liberdade pela segurança. Temos pernas, podemos correr por este mundo fora e não o fazemos…  até porque maior medo que o do perigo é o da solidão. Voar podia ser bom, mas só e sem destino seria muito triste.

A gaivota afastou-se, seguiu o grupo. Lá no alto pareciam observar-nos. Continuei o meu caminho, olhei por cima do ombro, sentindo-me seguida  - como se o bando me acompanhasse. Depois vi-as partir em direcção oposta. Adeus gaivota, voa por mim, voa!

sexta-feira, 7 de março de 2014

Crianças

Adoro crianças. Amo aqueles olhinhos sedentos de descobertas. As birras, as manhas, as gargalhadas e o som de “mã”. As cianças são a esperança da humanidade. Um adulto já está formado, nada será recuperado. Mas uma criança é massa pura por moldar. Uma criança tem potencialidades ilimitadas. Adoro crianças.

Nunca percebi o que leva um adulto a maltratar uma criança. Pena capital. Pecado mortal. Não tenho perdão para quem maltrata crianças.
O Valentim é filho de pais separados. A mãe vive o maior pesadelo da sua vida: tem de aceitar que o filho vá todos os fins de semana com o pai que não o quer – mas é a ordem do tribunal. O menino, de 2 anos, chega todos os domingos dominado pelo desespero, agarra-se a ela e treme de medo e de cansaço. No último fim-de-semana o Valentim chegou com marcas. A mãe pegou no menino e levou-o ao hospital. Foi registada queixa. Agora o tribunal proibiu o pai de ver o menino – pai este que nem perguntou se o Valentim estava bem…

Porque razão os tribunais obrigam as crianças a sofrer? Custódia partilhada??? Que raio! Dizem que os pais têm de se entender. Mas que parolice. Se os pais se entendessem não se estavam a divorciar no litigioso!!! E porque razão só se actua quando o mal está feito? A justiça tem de ser cega e não estúpida. Há mães e mães, há pais e pais. Uns não podem pagar pelos outros. A educação de um filho não é algo que se trata de modo generalista, mas deve ser diferenciada, ou seja adaptada a cada realidade. E se os Srs. Juízes levantassem-se das cadeironas e fizessem visitas surpresas às mães e aos pais… que tal observar in locuo em vez de ditarem apenas frases feitas. Aplicar leis não tem de ser de modo destruidor.
As crianças precisam de modelos femininos e masculinos nas suas vidas. Precisam de mãe e pai. Não precisam de monstros aos quais se dá o titulo de pai ou mãe, só porque tiveram relações sexuais. As crianças precisam de amor e não de dor.


Valentim, meu lindo amor, se soubesses o quanto compreendo as tuas lágrimas… O meu coração reza por ti. Tem esperança, um dia o sol irá brilhar sem nuvens… acredita… acredita!

quinta-feira, 6 de março de 2014

Flores de Inverno

Desde o mês passado que as ameixoeiras estão em flor. A rua onde moro está linda. De manhã, ao sair para o trabalho, sinto-me tão bem ao olhar para tão delicadas flores. Que poema vivo tão belo.

Gosto do frio e da chuva. Mas adoro o sol e as flores. Como é bom correr em campos floridos. Subir às árvores e contemplar tão maravilhoso cenário… e as memórias que se despertam… alegria pura!


Pela manhã, ao olhar tão delicadas flores, dou por mim a viajar mundo fora. O corpo desloca-se de forma rotineira, mas a alma voa para tão longe. Chego ao trabalho com um sorriso nos olhos. Até pareço outra…

segunda-feira, 3 de março de 2014

Ser diferente

Tenho um defeito numa vértebra. Provoca-me inflamações ciáticas constantes. Nasci assim. Cresci a aprender a adaptar-me às dores. Nem sempre é fácil. Nunca me conformei e por isso esforço-me para levar uma vida sem diferenças.

Sou doadora de sangue. Faço aos outros o que gosto que me façam a mim. Ajudo porque seria impensável ser de outro modo. No outro dia, no trabalho houve uma campanha para inscrição de doadores de medula óssea. Aproveitei e ofereci-me logo. Ao entregar os documentos a médica perguntou-me se tinha algum problema na coluna. Respondi que sim e expliquei-lhe tudo - “Ó que pena, não pode ser doadora de medula. Nem pensar em qualquer tipo de intervenção que possa agravar o seu estado.” Fiquei triste. Sou diferente. Sou anómala… É a vida! Podia ser pior. Apesar de tudo consigo ser independente. 
Sou diferente, mas  feliz. O que é bom, muito bom.