O choninhas é um homem de bata branca que conheço. Vive com
ar de enjoado. Fala como se fosse uma criança. Encosta-se a todos – trabalho não
é com ele! “Tás a ver”… “Tás a ver”… Se chega tarde é porque foi fazer “a
vacina das alergias”… Se sai cedo é porque vai “buscar o miúdo à escola”…
O choninhas é evitado por todos e à conta disso vive no
desfrute de um emprego que tantos desejavam ter, sem fazer nada para o merecer.
Há uma semana o choninhas pediu-me um escadote emprestado.
Tudo bem, apenas lhe disse para o devolver rapidamente pois estávamos a
precisar dele no laboratório. Passou uma semana. Uma semana em que estivemos equilibrados
em cadeiras. Uma semana em que todos me
chateavam por ter emprestado o escadote ao choninhas. Assim que o vi
perguntei-lhe se ainda precisava do escadote. Respondeu-me que “não, mas que
tinha encostado o escadote a um armário e esqueceu-se, mas que quando tivesse
tempo o trazia”. Respondi-lhe: Quando mo vieste pedir emprestei-to logo. Por
isso levanta esse cu de choninhas da cadeira e vai busca-lo, já!”
E o choninhas foi. E o choninhas entregou-mo com ar de
ofendido. Mas enganou-se, porque isto de abusar é até o primeiro começar a
refilar. Foi ver todos os colegas a pedirem-lhe coisas de volta… e não sei
porquê mas todos começavam a frase da mesma forma: “Oh choninhas, ainda
precisas de…”
Bem… no dia seguinte o choninhas meteu baixa…
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